terça-feira, 13 julho, 2010 por F.
Ansiedade sempre foi o meu nome. Não me lembro de ser diferente desde a infância. Meus pais são ansiosos, eu não tinha como ser diferente. Mas a minha ansiedade, ao contrário da deles, sempre me sabotou. Acabou com a minha auto-estima (se alguém encontrar ela por aí, favor devolver), fez com que eu desacreditasse da minha capacidade intelectual por muitas e muitas vezes (tipo sempre) e ao longo do tempo fez com que eu perdesse a noção de o que era realmente preocupante e do que era uma bobeira. O Transtorno de Ansiedade Generalizada faz com a gente não durma direito, faz com que a gente crie problemas que não existem (e se desespera com eles). A gente exagera, catastrofiza, lê a mente de todo mundo (sempre imaginando, claro, que os outros estão pensando tudo de ruim sobre a gente), se acha o cocô do cavalo do bandido sempre, acha que ninguém gosta da gente e que Murphy vai estar sempre na cola, mesmo que tudo pareça estar dando certo. Elogio é algo que nosso cérebro não é capaz de processar. A gente se submete a tudo, não se impõe. Pisam na gente e a gente acha que é normal, afinal a gente não é bom o suficiente. Pra nada.
É claro que eu não fui 100% assim nos últimos 34 anos e 7 meses. Às vezes a gente tá melhor, às vezes a gente chega ao fundo do poço.
Desde o ano passado eu mergulhei no fundo do poço. E fui parar no consultório psiquiátrico por outra razão. Eu na verdade não tinha nenhuma noção de que estava no fundo do poço. Saí de lá, no entanto, com o diagnóstico de TAG, caixas de anti-depressivo e um encaminhamento pra terapia. Uma possível TDAH deixou de me preocupar, sério.
Comecei a fazer terapia cognitivo-comportamental em janeiro. Seis meses depois, eu sou outra pessoa. Quer dizer, eu sou eu de novo. Quando olho os posts do ano passado, me choco e às vezes não sei como consegui, no meio daquelas crises de ansiedade/pânico, chegar até onde cheguei, profissionalmente. Talvez porque visse isso como a minha salvação, um chance mínima de resgatar alguma auto-confiança.
Essa tal de TCC foi a melhor coisa que me aconteceu. É impressionante como a gente passa a vida enfiando coisas na cabeça e depois não sabe nem de onde veio. E mesmo quando a gente descobre de onde veio, não faz idéia de como é difícil mudar. Quanto mais velho a gente fica, mais teimoso, né? Mas acho que reconhecer a auto-sabotagem já é um bom começo. Também dei sorte: tio D. e tio A. são sensacionais. Certamente encontrar bons profissionais é fundamental. E, claro, a vontade de se livrar da nuvem negra, das palpitações sem fundamento, das noites de insônia. Porque o trabalho maior e mais difícil fica por conta da gente.
Tio A. disse há umas semanas, depois de ouvir mais um pouco sobre episódios da minha vida, que eu sou resiliente. Desde então, toda vez que eu acho que vou desmoronar, tento me lembrar disso. E aí penso: vai passar, vai passar. Não crio mais problemas pra mim onde não existe. Consegui passar a pensar neles de forma realista, e expulsei os monstros do armário. Não me irrito a toa com coisas pequenas. Se me irrito, não deixo que isso tire o meu bom humor.
Estou mais calma, mais tranquila, mais simples. Quero estar assim o tempo todo, o máximo que eu puder.
Só tenho que aprender a fazer como uma amiga, que todos os dias quando acorda, se olha no espelho e se chama de gostosa. rs
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DICAS DE LEITURA:
A mente vencendo o humor, de Dennis Greenberg. Além de falar sobre ansiedade, medo, culpa, depressão, explica um pouco da TCC e tem vários exercícios para identificar e minimizar distorções cognitivas. Muito bom!
O estresse está dentro de você, de Marilda Lipp. Um geralzão sobre o que nos causa estresse, desde a infância, e dicas de como diminuir os efeitos.